quinta-feira, 20 de março de 2008

“Tu és Cristo, o Filho de Deus vivo”

Ficamos de imediato com a impressão de uma santidade inefável, de uma dignidade sublime, de uma pureza sem sombra, mas também com a convicção de uma grandeza divina.

Mas se o Divino nos assusta n’Ele pelo poder, pela glória, pela sublimidade soberanas, o humano atrai-nos com irresistíveis encantos. A sua compaixão pelos que sofrem comove-nos; a sua atitude para com os pecadores arrebata-nos, e a admiração apodera-se de nós perante as suas inefáveis condescendências. Ele, que se apresenta aos discípulos e lhes propõe uma doutrina moral de uma rudeza impressionante, enche-se de piedade perante uma alma que se agita impotente nas malhas do pecado, contempla emocionado o menor progresso de uma boa vontade que avança pelo caminho novo, e estremece de gozo ao ver um ténue raio de luz na alma de um homem.

Ele próprio é um homem, um homem que chora, que reza, que se comove, que sente fadiga, que se vê esgotado pela fome, que tem as suas angustias e suas preferências, que se indigna e se comove, se entusiasma e se enche de tristeza. Embora isento do mal moral e do remorso, nada de autenticamente humano é alheio a Ele. No seu trato com os homens notamos uma mistura de doçura e de majestade, de autoridade consciente e abnegação total, que nos revelam ao mesmo tempo o Filho de Deus e o Filho do homem, como Ele gostava de se chamar a si próprio. Cura, exorciza, absolve, increpa os ventos, acaricia as crianças, compadece-se da multidão, aceita as comidas que lhe oferecem tantos os ricos como os pobres; fala com os ám-há-rez, coisa nefanda para um fariseu, e não só permite que se aproximem Dele os pecadores e os publicanos, como parece ter por eles uma espécie de preferência. Ama-os com essa ternura insistente e inquieta que as mães têm com os filhos ameaçados pela doença ou pela morte. Que paciência tem para todas as ignorâncias e fraquezas! Que doçura e que energia para instruir os discípulos, para suportar as suas imperfeições, para lhes revelar, um por um, os grandes preceitos da nova lei: os deveres de humildade, as alegrias da ajuda fraterna, o perdão das injúrias, o préstimo amável, que não degrada e que enche de gozo o coração.

Acessível, misericordioso, familiar; grandeza heróica, dignidade inefável, soberana pureza; limpidez de palavra, limpidez de pensamento e limpidez de vida. Jesus oferece-nos já, considerado só na intimidade da sua vida e na graça da sua humanidade, a partir do seu ministério público, a mais bela imagem que aos homens foi dado contemplar.

--------------------------------------------------------------------------------------------
A todos uma Santa Páscoa.
Roy.

Sem comentários: