«Em silêncio diante d’Ele»
É o que me proponho fazer neste tempo de Quaresma e de Páscoa: procurá-Lo para ficar diante d’Ele, em silêncio...
É o que me proponho fazer neste tempo de Quaresma e de Páscoa: procurá-Lo para ficar diante d’Ele, em silêncio...
A visita ao Santíssimo, o tempo de adoração que podemos fazer, não substitui nem se confunde com a Comunhão de cada Missa. São gestos diferentes, mas ambos necessários.
Na Comunhão é Ele que nos invade, é Ele dentro de nós, tão dentro e tão íntimo que, como a nós, não O vemos. Na Adoração ao Santíssimo, é Ele diante de nós, somos nós diante d’Ele. É o frente-a-frente, o cara-a-cara. Nós vemo-Lo e Ele, sabemos e acreditamos, vê-nos.
Ás vezes parece-me tempo perdido, o que passo, sentado ou ajoelhado diante da Hóstia branca e redonda, fina e frágil, ladeada por velas acesas. Nada acontece. Não me saem as palavras, não me vêm pensamentos edificantes, nada... só silêncio. E mortifico-me com perguntas e dúvidas sobre o sentido daquele meu gesto, daquele meu tempo ali passado. Que umas vezes voa e outras parece não passar.
Vou então aprofundando as verdades da minha fé e as razões da minha vida, e tudo ganha sentido quando relembro a mim próprio que não depende de mim o significado, a verdade e o proveito daquele gesto... mas d’Ele e só d’Ele. A sua Presença ali, viva e verdadeira, não depende do meu estado de alma, nem do meu estado de graça ou de pecado, nem da minha vontade... mas d’Ele e só d’Ele.
Deus está ali e isso basta! E se Deus está ali, eu estou com Ele. E se eu estiver com Ele, que mais posso querer? Que mais posso pedir? Que outra coisa melhor me poderia acontecer, em todo o meu dia?
E se eu estiver junto d’Ele, ainda que mudo e quedo, Ele fará o que eu não sei fazer e Ele dar-me-á o que eu não sei pedir. Eu só tenho que ir ao seu encontro, num acto de vontade própria e livre e oferecer a minha aridez, a minha mudez, o meu silêncio... e isso Lhe basta. Porque o que verdadeiramente Ele quer de mim, não são tanto as coisas boas que pensei, que disse ou que fiz. Ele quer de mim muito mais do que isso: Ele, de mim, quer tudo! Quer a minha vontade, o meu coração, a minha pessoa, a minha vida inteira. Quere-a tal como ela é, com os defeitos e as virtudes que ela tem. Quere-me, a mim!
É por isso que uma Visita ao Santíssimo faz-me crescer como pessoa, porque ainda que nada tenha para Lhe dizer, relembra-me o amor que Ele me tem que O faz estar ali... à minha espera... sempre.
É esta a minha proposta para este tempo de Quaresma. Eu sei que é difícil arranjar tempo para o fazer. Ainda bem, porque assim, tem muito mais sabor... e Ele há-de gostar ainda mais!
Rui Corrêa d’Oliveira